Arilson Favareto assume como professor titular da Cátedra Josué de Castro

Publicado em: 24/09/2024

Em setembro, o professor Ricardo Abramovay encerra seu ciclo como professor titular da Cátedra Josué de Castro (2022-2024). Arilson Favareto, professor do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial na UFABC e pesquisador Pleno do Cebrap, assume a titularidade da Cátedra Josué de Castro.

Durante o período de titularidade de Ricardo, a Cátedra desenvolveu estudos, debates e reflexões marcados por uma ampla diversidade de temas, com destaque ao enfrentamento da monotonia agroalimentar, promoção do bem-estar animal, possibilidades e oportunidades em pecuária regenerativa e em agricultura urbana. Também atuamos como instituição membro do Conselho Nacional Consultivo de um dos principais grupos de engajamento do G20, o Think20 Brasil, promovendo eventos e produzindo recomendações e posicionamentos. Ao mesmo tempo, seguimos com a promoção de encontros, seminários e oficinas sobre temas diversos, sempre em diálogo com os atores sociais que estão na linha de frente no combate à fome e na transformação dos sistemas agroalimentares.

O professor Ricardo segue como pesquisador e membro do grupo de referência da Cátedra, apoiando ativamente no desenvolvimento de pesquisas e no fortalecimento do debate sobre os sistemas agroalimentares. 

Próximo ciclo

Confira abaixo um breve panorama do próximo período de titularidade (2024-2026):

C: Qual a sua expectativa em relação ao período de titularidade?

Arilson Favareto: “Este é o quinto ano de existência da Cátedra e sou a terceira pessoa a ocupar a posição de Professor Titular. Graças ao trabalho dos que me antecederam, Tereza Campello e Ricardo Abramovay, esse é um espaço já reconhecido como uma referência importante de produção de conhecimentos sobre sistemas agroalimentares saudáveis e sustentáveis no Brasil.

Para esse próximo período tenho uma dupla expectativa. Primeiro, dar continuidade a pesquisas que já estão em curso, consolidar as parcerias com outra instituições que atuam nesse campo e ampliar a incidência da Cátedra no debate público. Para além disso, precisamos aproveitar o contexto de 2024/2025. Atualmente o Brasil exerce a presidência do G20, em seguida assume a liderança dos Brics, e em 2025 temos a COP30, em Belém. É uma excelente oportunidade para produzirmos mais e melhores conhecimentos sobre como colocar os sistemas agroalimentares em uma trajetória coerente com a ideia de uma transição justa e sustentável”. 

C: Quais serão os principais eixos de trabalho neste novo ciclo?

Arilson: “Um primeiro eixo envolve a elaboração de uma agenda de pesquisa sobre os desafios e, principalmente, sobre os caminhos para que possamos produzir uma estratégia de phase down do modelo convencional de produção e consumo agroalimentar. Hoje sabemos bastante sobre os efeitos nocivos do modelo convencional para o meio-ambiente e a saúde humana. Sabemos também que há um riquíssimo arquipélago de experiências inovadoras. Mas sabemos relativamente pouco sobre como transformar esse arquipélago de inovações em um ‘novo mainstream‘.

A soma entre essas inovações, de um lado, e o modelo convencional de produção e consumo alimentar, que segue tendo muito apoio, de outro, tem levado a um ‘jogo de soma zero’, com aumento das doenças associadas ao padrão alimentar atual, erosão da biodiversidade, aumento das emissões de gases estufa. Uma agenda assim só pode resultar de um esforço coletivo. A Cátedra pode ser um espaço de encontro entre os que querem pensar uma transição que mude a realidade dos sistemas agroalimentares. 

Um segundo eixo consiste em, a partir dessa agenda coletiva, identificarmos onde a Cátedra poderá concentrar seus esforços de pesquisa, de maneira complementar ao que outros grupos já estão fazendo. Queremos consolidar tudo isso em um relatório sobre transição nos sistemas agroalimentares no Brasil, a ser divulgado às vésperas da COP30, posicionando esses temas, oferecendo evidências sobre os cenários e caminhos que se projetam, e mapeando onde é preciso fazer novos esforços de pesquisa e de experimentação política”.  

C: O que você apontaria como o maior desafio para a área da pesquisa nos próximos anos?

Arilson: “Os desafios são muitos. Vou mencionar apenas dois. Um deles me preocupa especialmente. Com o agravamento das mudanças climáticas, a contenção do aquecimento global via redução das emissões de CO2 ganhou uma projeção rápida. Governos, organizações sociais e mesmo grandes corporações tentam, de diferentes maneiras, contribuir para isso. Nem sempre com ideias consistentes, é verdade. Mas nessa disseminação das preocupações ambientais, tem havido o que eu chamo de “duplo descasamento” na agenda do clima: nem todas as propostas de redução de emissões levam também à conservação da biodiversidade; e nem todas levam a uma redução das desigualdades, ao contrário, até. Reconectar a agenda do clima com esses dois temas é fundamental.

Outro desafio envolve a pluralidade de tecnologias e de trajetórias. Não haverá solução única para uma transição assim. Não se trata de um ‘vale-tudo’, por certo. Trata-se de tomar a diversidade a sério, avaliando criticamente e continuamente os possíveis e os reais efeitos de cada alternativa posta sobre a mesa. A construção do futuro exige pluralidade de ideias, desde que com critérios claros em torno de alguns compromissos e princípios, coerentes com o que sinalizam os adjetivos ‘justa e sustentável’, que usamos ao falar da transição desejada para os sistemas agroalimentares”. 

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